Lucimara Fabiana Fornari, Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – Brasil
A Revisão da Literatura é uma etapa essencial para o desenvolvimento de qualquer pesquisa, pois evidencia o conhecimento produzido sobre determinado tema e ressalta lacunas que podem ser superadas por meio de estudos futuros. Nos últimos anos, se constata o crescente número de revisões publicadas nas principais bases de dados científicas. Para tanto, os pesquisadores têm adotado diferentes abordagens metodológicas, como a revisão sistemática, de escopo, rápida, narrativa, entre outras.
Independente do tipo de revisão adotado pelos pesquisadores, é fundamental que todas as etapas metodológicas sejam cumpridas com rigor, para que as evidências científicas tenham validade e aplicabilidade. Além disso, é necessária a descrição detalhada da identificação e seleção das publicações com vistas à replicação e atualização (Palmatier et al., 2018).
Considera-se que o desenvolvimento das revisões é influenciado pelo propósito e pela experiência dos pesquisadores em relação à metodologia e ao tema de pesquisa, pela quantidade e qualidade das publicações, pelo acesso e domínio de recursos, e pelo tempo de duração.
Neste sentido, pontua-se que o tempo de duração de uma revisão pode ser otimizado pela utilização de ferramentas digitais que apoiam na organização, no tratamento e na análise dos dados. Além disso, as ferramentas digitais influenciam na transparência metodológica e no trabalho colaborativo entre os membros da equipe de pesquisa (Dixon-Woods et al., 2001; Grant & Booth, 2009).
O desenvolvimento de uma revisão é norteado pela questão de pesquisa, que geralmente se reporta a áreas do conhecimento desafiadoras (Dixon-Woods et al., 2006). A revisão também é caracterizada pelo desenvolvimento de novos conhecimentos a partir da análise dos resultados de estudos existentes (Thorne et al., 2004).
…as ferramentas digitais podem facilitar a importação e o armazenamento dos metadados.
A análise dos resultados de pesquisas quantitativas e qualitativas proporciona a síntese das informações de estudos primários e secundários. Esses estudos são selecionados por meio das bases de dados, nas quais é aplicada uma estratégia de busca definida no protocolo de revisão. A busca nas bases de dados geralmente resulta em um grande volume de publicações que precisam ser selecionadas pelos pesquisadores de acordo com os critérios de elegibilidade associados à questão de pesquisa.
Nesta perspectiva, as ferramentas digitais podem facilitar a importação e o armazenamento dos metadados. A importação dos metadados ocorre a partir das bases de dados ou através dos gestores de referências bibliográficas, como o EndNote, o Mendeley, o Zotero, entre outros.
O uso de ferramentas digitais apropriadas para essa etapa da revisão, proporciona aos pesquisadores acessibilidade momentânea aos estudos, segurança no armazenamento das publicações e praticidade para exclusão dos documentos duplicados.
A seleção das publicações que compõe a amostra revisada pode ser realizada por um ou mais revisores independentes. A seleção realizada por dois revisores independentes, por exemplo, tem como finalidade a dupla verificação e a redução do viés interpretativo das sínteses do conhecimento. Os pesquisadores precisam considerar a utilização de ferramentas digitais que favoreçam o trabalho em equipe ao permitir ações individuais e colaborativas. Assim, assegura-se a autonomia dos pesquisadores para a edição e validação conjunta das marcações identificadas como divergentes.
Esse processo de trabalho individual e colaborativo, de acordo com o tipo de revisão, também acontece na etapa de tratamento dos dados. As publicações na íntegra são lidas independentemente, avaliadas e codificadas. Posteriormente, a equipe de pesquisa realiza a validação dos resultados para produção das evidências científicas.
Considera-se que a síntese das evidências científicas está fundamentada no percurso metodológico adotado pelos pesquisadores, pois os resultados encontrados na literatura científica devem ser estruturados em categorias específicas, seguras e definidas (Dixon-Woods et al., 2006).
As ferramentas digitais de análise podem influenciar positivamente no processo de organização e categorização dos dados. Também apresentam a capacidade de garantir melhor descrição das etapas incorporadas ao tratamento dos dados…
A validade da síntese não está associada à lógica da replicação, mas da inclusão, na qual as descobertas são organizadas para elaboração de um produto. Salienta-se que a inclusão não envolve simplesmente comparações entre os resultados dos estudos selecionados, porém a produção de informações utilizáveis (Thorne et al., 2004).
As ferramentas digitais de análise podem influenciar positivamente no processo de organização e categorização dos dados. Também apresentam a capacidade de garantir melhor descrição das etapas incorporadas ao tratamento dos dados, pois requerem ações planejadas e sistematizadas para que os dados sejam processados e analisados conforme as funcionalidades propostas pelas ferramentas.
Nota: este texto foi originalmente publicado no blog do software webQDA.
Referências
Dixon-Woods, M, Fitzpatrick, R., & Roberts, K. (2001). Including qualitative research in systematic reviews: Opportunities and problems. Journal of Evaluation in Clinical Practice, 7(2), 125–133. https://doi.org/10.1046/j.1365-2753.2001.00257.x
Dixon-Woods, Mary, Cavers, D., Agarwal, S., Annandale, E., Arthur, A., Harvey, J., Hsu, R., Katbamna, S., Olsen, R., Smith, L., Riley, R., & Sutton, A. J. (2006). Conducting a critical interpretive synthesis of the literature on access to healthcare by vulnerable groups. BMC Medical Research Methodology, 6(35), 1–13. https://doi.org/10.1186/1471-2288-6-35
Grant, M. J., & Booth, A. (2009). A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Information and Libraries Journal, 26, 91–108. https://doi.org/10.1111/j.1471-1842.2009.00848.x
Palmatier, R. W., Houston, M. B., & Hulland, J. (2018). Review articles: purpose, process, and structure. Journal of the Academy of Marketing Science, 46(1), 1–5. https://doi.org/10.1007/s11747-017-0563-4
Thorne, S., Jensen, L., Kearney, M. H., Noblit, G., & Sandelowski, M. (2004). Qualitative Metasynthesis: Reflections on Methodological Orientation and Ideological Agenda. Qualitative Health Research, 14(10), 1342–1365. https://doi.org/10.1177/1049732304269888