Círculo Hermenêutico Dialético como Carro-Chefe da Metodologia Interativa e Ferramenta para Sequência Didática
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Círculo Hermenêutico Dialético como Carro-Chefe da Metodologia Interativa e Ferramenta para Sequência Didática

Ludomedia Artigo Círculo Hermenêutico Dialético
2.2  Aportes teóricos da Metodologia Interativa versus CHD

De forma compacta, e em tópicos, apresentamos os aportes teóricos que são a base de sustentação para aplicação da Metodologia Interativa, segundo a utilização do CHD.

Complexidade

Na tentativa de desmitificar a concepção de que complexidade está associada ao difícil, confuso, coisa complicada, é importante entender, com base em Morin (1998), quecomplexidade está relacionada ao princípio sistêmico e organizacional, que não é fragmentado, mas que se trata de uma unidade de múltiplas inter-relações. Dai porque, pensar de maneira complexa, significa ver as coisas inter-relacionadas, uma sucessão de ideias, de fatos, de fenômenos, de falas que se entrecruzam formando uma unidade.

Sendo assim, passamos a refletir que no vai e vem da aplicação do CHD, a complexidade se faz presente por meio da dialogicidade. Isto nos ajuda na construção de novos conhecimentos e contribui para melhor entender a realidade em suas múltiplas relações, em um determinado momento da história.

Acreditamos que o CHD se constitui numa ferramenta complexa, exigindo do pesquisador um trabalho interativo, que entrelace por meio da dialogicidade e da dialética as falas dos pesquisados. Novamente recorremos a Morin (2008, p. 13), para melhor entendimento do “vai e vem” do CHD na pesquisa de campo, que se reproduz na afirmação deste autor sobre complexidade, como sendo “um tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico”. Segundo este autor, a complexidade, sendo um tecido formado por diversos fios, não perde a variedade e diversidades, ou seja, a complexidade destes fios que se entrecruzam dão origem a uma só unidade. Na perspectiva do pensamento complexo, a realidade é um todo, e os componentes que integram esse todo, são apenas percebidos, distinguidos, e não fragmentados. 

É nesta direção que a aplicação da técnica do CHD facilita a compreensão da realidade em seu momento histórico, uma vez que é retratada pelos autores sociais em sua totalidade, com o mínimo de interferência do pesquisador, que se limita a solicitar respostas para cada item do roteiro das entrevistas. Somente após a realização das entrevistas individuais, o pesquisador faz uma síntese geral dos dados coletados, e realiza uma reunião com todo grupo para analisar em conjunto o resultado da construção e reconstrução da realidade por meio de constantes diálogos. É nesse momento que se legitima a interatividade do pesquisador com todos os sujeitos pesquisados, que tem como desfecho a pré-análise que facilita o cruzamento de dados dos questionários à luz da fundamentação teórica do objeto de estudo. Portanto, a realidade é estudada em sua diversidade, sem perder de vista suas múltiplas características, e, na dialogicidade e complexidade desta técnica, a realidade passa a ser compreendida como sendo uma unidade que engloba uma teia de interações.

Dialogicidade

Segundo Freire (1987, p. 78), em sua obra Pedagogia do Oprimido, a dialogicidade deve ser trabalhada como essência da educação, sendo uma prática de liberdade. Esse autor afirma que: “o diálogo é este encontro dos homens, midiatizado pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”. Ainda segundo Freire (1992, p. 43), só existe diálogo numa relação de amor, de reflexão e ação, pois o diálogo só se estabelece como sendo “o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o pronunciam, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos”. Isto, porque somos seres inacabados, e somente por meio do diálogo podemos apreender a realidade em que vivemos, para fazermos e refazermos a história. 

Para Morin (2008, p. 189), o termo dialógico “quer dizer que duas lógicas, dois princípios estão unidos, sem que a dualidade se perca nessa unidade”. Assim, na construção do conhecimento, a dialógica se faz presente e nos remete a complexidade, enquanto estudo de elementos antagônicos, tais como certezas e incertezas, ordem e desordem, comparação entre sistemas abertos e fechados, e que não perdem suas especificidades.

Enquanto Morin defende a dialogicidade focada em princípios antagônicos, que não perdem suas próprias características na construção de uma nova unidade, Freire (2004), ao falar de dialogicidade, faz a associação entre ação e reflexão, em um contínuo processo de esperança, de integração entre pessoas, ressaltando que somos seres inconclusos e capazes de agir e modificar o mundo. Neste processo dialógico, repensamos a realidade e a reconstruímos em toda sua complexidade através da dialética e da dialogicidade. Reportamo-nos a Morin (1998, p. 204), que nos oferece pistas para estudar e compreender como se dá este processo, e que assim se expressa:

Conceber nosso universo a partir de uma dialógica entre os termos (ordem, desordem, interação e organização), cada um deles chamando o outro, cada um precisando do outro, para se constituir cada um inseparável do outro, cada um complementar do outro, sendo antagônico ao outro. 

É por meio dessa dialogicidade que se percebe a realidade pelo sistema das relações entre o todo e as partes sem dicotomização, mas na busca de compreender a teia do entrelaçamento dos componentes que a constitui. A análise dessa complexidade nos leva a construir uma nova unidade, segundo a percepção da realidade em sua totalidade e em movimento.

Hermenêutica

Para Gadamer (2009, p. 980), filósofo e discípulo de Heidegger “a hermenêutica encontra-se diante do desafio do incompreendido, e, por meio daí, ela é trazida para o caminho do questionamento, e é obrigada a compreender”. Dessa forma, a hermenêutica nos leva a questionar a realidade em busca de respostas para uma compreensão daquilo que nos propomos a estudar, para melhor compreensão da realidade.    

Dialética

Vamos encontrar em Hegel e Marx, os princípios da dialética “todo ser humano é natural e concreto, sendo movido pelos conflitos […] tudo se relaciona, tudo se transforma” (Santos, 2003, p. 180).

É nesta direção que o método dialético representa o universal e o concreto, que segundo Lefebvre (1983, p. 237) “fornece leis que são supremamente objetivas, sendo ao mesmo tempo leis do real e leis do pensamento, isto é, leis de todo movimento, tanto no real, quanto ao pensamento”. Este autor ainda nos informa que a relação entre o universal e o concreto não é uma relação de inclusão ou de exclusão, e sim, uma relação dialética, que implica na investigação e no contato direto com a realidade.

Tomando como base Hegel e Marx, entendemos a dialética como estudo da realidade em seu movimento e luta dos contrários, que necessariamente exige diálogo. Reforça este nosso posicionamento, Lefebvre, que, ao defender o diálogo entre teses contraditórias, leva-nos a refletir de forma segura, para se ter um posicionamento correto da realidade.  

Visão Sistêmica

Por entender a realidade como um processo, no qual fatos e fenômenos se apresentam interligados e em movimento, ou seja, conectados e em mutação, e ainda por entender que fazemos parte desse processo, a Metodologia Interativa se apresenta como um processo hermenêutico-dialético, dentro de uma visão sistêmica. Este tipo de visão deve ser compreendido numa dimensão de totalidade, de organização, de complexidade, de sistematização de fatos, objetos e fenômenos.

Somente a partir da década de 20 houve uma sistematização do pensamento sistêmico, tendo como ponto de partida os estudos sobre Biologia na busca de uma melhor compreensão da evolução dos organismos vivos, como totalidades integradoras. Foi uma mudança de paradigma, sendo um contraponto à ideia mecanicista de compreensão do todo a partir do isolamento de suas partes.

Vasconcelos apud Bertalanffy (2004, p. 151) define sistema como sendo “um conjunto de componentes em interação”. Com base nesta autora, para se ter uma visão sistêmica é preciso trabalhar de forma integrada três dimensões: complexidade, instabilidade e intersubjetividade.

2.3   Análise Hermenêutico-Dialética

Este tipo de análise é uma prática interpretativa dos dados coletados, que tem como principais embasamentos teóricos a técnica da análise de conteúdo segundo Bardin (1997), a hermenêutica-dialética fundamentada em Harbermas, 1980; Gadamer, 2009;  Minayo, 2004.

Em sua obra O Desafio ao Conhecimento, Minayo (2004 p. 231), ao fazer uma análise sobre as discussões teóricas em torno da dialética e da hermenêutica com ênfase em Gadamer, Haberman, e no método de análise de conteúdode Bardin, afirma que:

O método hermenêutico-dialético é o mais capaz de dar conta de uma interpretação aproximada da realidade. Ele coloca a fala em seu contexto para entendê-la a partir do seu interior e no campo da especificidade histórica e totalizante, em que é produzida.

Para aplicação completa de toda estruturação teórica e técnica da Metodologia Interativa, se faz necessário o levantamento das categorias teóricas, como referenciais para construção dos instrumentos de pesquisa (questionários e roteiro de entrevistas).

2.4  Aplicabilidade da Metodologia Interativa versus CHD

A coleta os dados empíricos realizada através do círculo hermeneutico-dialético, já detalhada no item 2.1 (Figura 1), oferece-nos subsídios para sistematização destes dados. Este procedimento demanda a construção de uma matriz, que deve ser desenvolvida com a indentificação  das categorias teóricas, categorias empíricas e as unidades de análise.

Quando falamos em categorias teóricas, estamos nos referindo ao tema central de estudo e das leituras convergentes a este tema. As questões e roteiros das entrevistas que surgem nessas categorias são chamados de categorias empíricas. Finalmente, as respostas (dados obtidos) segundo cada questão formulada e / ou roteiro de entrevistas, são chamadas de unidades de análise.Estas unidades (respostas dos pesquisados) são analisadas à luz da Fundamentação teórica para dar conta do objeto de estudo.

Após a aplicação do CHD é construida a matriz geral dos dados coletados, que objetiva a análise desses dados, que deve ser realizada por meio da interface, e/ou cruzamento de informações entre os dados obtidos pelo CHD com os demais dados que são obtidos por outros instrumentos de pesquisa, tais como: a aplicação de questionários, observações, leitura de documentos oficiais pertinentes ao tema em estudo, e outros, conforme opção do pesquisador.         

Esse tipo de análise, segundo Minayo (2004, p. 199) é denominada de análise hermenêutico-dialética. Esta metodologia privilegia a utilização da hermenêutica, como sendo uma ferramenta essencialmente de interpretação e de compreensão da realidade, que tem seus fundamentos em Gadamer (1997).

De forma didática e mais objetiva para melhor entendimento da aplicabilidade da Metodologia Interativa, tomamos como exemplo alguns detalhes do desenho metodológico de uma dissertação da autoria de Adelmo Fernandes de Araújo (2011), que traz o título: Projetos de Trabalho e Educação Ambiental: uma estratégia de ensino-aprendizagem sob a perspectiva da complexidade.

Durante a construção dessa dissertação foi trabalhada como categorias teóricas: educação ambiental, projetos de trabalho e complexidade/transdisciplinaridade. Destes fundamentos teóricos emergiram as categorias empíricas, que se configuram como roteiros para realização das entrevistas, observações, elaboração dos questionários, bem como referenciais para análise de documentos e subsídios para planejamento de oficinas pedagógicas. Após a coleta de dados por meio destes instrumentos de pesquisa, foram obtidas respostas dos atores sociais (professores) que, por sua vez, foram trabalhadas como unidades de análise. Todo este procedimento foi sistematizado em um quadro geral, conforme podemos observar a seguir:

Quadro 1
Matriz geral das categorias

EDUCAÇÃO AMBIENTALPROJETOS DE TRABALHOCOMPLEXIDADE/ TRANSDISCIPLINARIDADE
Educação ambiental (concepção inicial) Meio ambiente associado à Biologia e Ciências; Educação para uma vida melhor; Ensinar o que é meio ambiente; Conscientizar as pessoas sobre a importância do meio ambiente; Conscientizar as pessoas sobre respeitar tudo.Projetos de trabalho (concepção inicial) É ter uma ideia e chamar alguém para ajudar; Desenvolver e aplicar projetos; Sistematizar algo para trabalhar; Passo a passo de um determinado assuntoComplexidade/Transdisciplinaridade (concepção inicial)   1.1 Complexidade Difícil e amplo; Trabalhoso para entender e fazer. 1.2 Transdisciplinaridade União ou junção entre disciplinas; Relação e diálogo entre disciplinas; Transposição de temas; Integração de conhecimentos.
3.   Prática docente em educação ambiental (diagnóstico) Não trabalha com educação ambiental; Não trabalha com educação ambiental, mas, desenvolve atividades referentes ao meio ambiente; Trabalha com educação ambiental.3.   Projetos de trabalho (implantação) Leitura de texto, discussão e oficina; Aula expositiva e sugestão de pesquisa; Dei o conteúdo para eles; Observação e policiamento das atitudes. 
 4. Projetos de trabalho (desenvolvimento) 4.1 Motivo da escolha Grande número de alunos; A turma dá muito trabalho; Grande quantidade de lixo na sala de aula; 4.2  Dificuldades Indisciplina dos/as alunos/as; Empenho dos/as alunos/as; Não houve dificuldades; Tempo do projeto. 
 5.   Projetos de trabalho (avaliação) 5.1 Comparação Professor dono do conhecimento x professor mediador; Aula cansativa x aula participativa e produtiva; Aprendizagem significativa para a vida prática; 4.2 Modificação Obtenção de melhores resultados dos/as alunos/a; Motivação e participação dos/as alunos/as; Aprendizado do/a docente; Reavaliar a prática docente. 
As categorias teóricas são representadas pelos títulos de cada coluna; a numeração representa cada categoria empírica e os marcadores significam as unidades de análises.
Fonte: Araújo, 2011

De forma sucinta, passamos a demonstrar o procedimento da análise de dados com base na matriz geral das informações coletadas. Nessa dissertação, cada categoria foi analisada á luz dos aportes teóricos trabalhados na construção da fundamentação teórica da mencionada dissertação. A título de exemplificação, vejamos no quadro 2 como foi analisada a categoria Educação Ambiental nessa pesquisa, em que participaram quatro atores sociais.

Tomando como referência, a categoria teórica Educação Ambiental, foi trabalhada como categoria empírica, a concepção inicial, e como unidades de análises: significado de meio ambiente, importância do meio ambiente, respeito á natureza. Foi construído um quadro de análise, no qual foi criada uma coluna correspondente a cada professor (sujeitos da pesquisa, identificados por P1, P2, P3 e P4); a segunda coluna, corresponde à unidade de análise concepção inicial de educação ambiental, e a terceira coluna, representa a unidade de análise após o processo de intervenção, que constou da realização de uma oficina pedagógica.

Quadro 2
Educação ambiental: concepção inicial e concepção pós-intervenção

DocenteUnidades de análises iniciaisUnidades de análises pós-intervenção
P1Meio ambiente associado à Biologia e Ciências.É a sociedade tomar consciência.
P2Educação para uma vida melhor.Educação para um mundo melhor. Conscientização e prática educacional.
P3Ensinar o que é meio ambiente. Conscientizar as pessoas sobre a importância do meio ambiente.É reeducação da sociedade e de si mesmo.
P4Conscientizar as pessoas sobre respeitar tudo.É um processo para se tornar consciente.

Fazendo um recorte quanto a análise hermenêutico-dialética, tomamos como exemplo a unidade de análise meio ambiente associado à Biologia e Ciências, que foi assim trabalhada por Araújo (2011, p. 77):

“P1 ao responder o que entendia sobre EA expressou sua concepção da seguinte maneira”:

A questão do próprio meio ambiente em si, é (…) como eu posso dizer em relação à disciplina de biologia ou ciências que tem isso direcionado sempre eu nunca trabalhei com meus alunos (P1).

“Na sua fala, se percebe que há uma associação do termo EA com as disciplinas de Biologia e Ciências […] ressaltamos que P1, em seu discurso, ao considerar a EA associada às disciplinas de Biologia e Ciências, vai de encontro às propostas apresentadas de inserção da EA em todas as disciplinas do currículo de modo transversal. Neste sentido, Cachapuz et al (2005) afirma que qualquer que seja o campo específico do/a docente, ele/a deve contribuir para viabilizar a busca de soluções para os problemas ambientais”.

Diante do exposto, quanto ao detalhamento sobre o significado de categorias teóricas, categorias empíricas e unidades de análise, e da transcrição da Matriz Geral dessas categorias, tendo como referência Araújo (2011) tentamos facilitar a compreensão do processo de aplicabilidade da Metodologia Interativa.

3.   SEQUÊNCIA DIDÁTICA INTERATIVA

A Sequência Didática Interativa (SDI) é uma nova proposta didático-metodológica para ser utilizada no contexto da sala de aula, visando facilitar o processo ensino-aprendizagem. Esta nova proposta é um desdobramento da Metodologia Interativa,  tendo como carro-chefe a técnica do Círculo Hermenêutico-Dialético.

3.1   Contextualizando e definindo a Sequência Didática Interativa      

Esta nova proposta tem como procedimento metodológico a construção e reconstrução de conceitossobre diferentes temas dos componentes curriculares da Educação Básica, Cursos de Licenciaturas e Pós-Graduação. Nesse contexto, é realizada uma sucessão de atividades para sistematização de conceitos individuais e, a seguir, são desenvolvidas atividades com pequenos grupos, objetivando a formação de uma só definição do tema em estudo, para ser trabalhada a fundamentação teórica da temática proposta ao grupo-classe (Figura 2). Essa nova ferramenta didática é assim definida por Oliveira (2013, p. 58): 

A sequência didática interativa é uma proposta didático-metodológica que desenvolve uma série de atividades, tendo como ponto de partida a aplicação do círculo hermenêutico-dialético para identificação de conceitos/definições, que subsidiam os componentes curriculares (temas), e, que são associados de forma interativa com teoria (s) de aprendizagem e/ou propostas pedagógicas e metodologias, visando à construção de novos conhecimentos e saberes.

3.2 Aportes teóricos que fundamentam a Sequência Didática Interativa (SDI)

Os principais fundamentos da SDI estão alicerçados nos aportes teóricos da Metodologia Interativa versus CHD já trabalhados nesse texto, no item 2.2.

3.2.1 APLICABILIDADE DA SDI VERSUS CHD

Com base nos aportes teóricos do CHD, passamos a demostrar de forma resumida por meio da Figura 2, a aplicabilidade da SDI no contexto de sala de aula. Suponhamos um grupo de vinte alunos para desenvolver a temática Interdisciplinaridade. Entregamos a cada estudante uma pequena ficha de papel em branco que resulta de uma folha de papel A4 dobrada em três partes, e que, ao ser cortada, obtemos oito fichas com as dimensões 10,5 x 7,5. Ao entregar as 20 fichas, solicitamos que cada aluno escreva uma pequena frase nessa ficha, dizendo o que entende por interdisciplinaridade (poderá ser também duas ou três questões). Em seguida, solicitamos a formação de quatro grupos, tendo cinco alunos por grupo. A tarefa seguinte consiste em solicitar que em cada grupo todos leiam a sua ficha, e que façam um resumo das cinco frases em um só, e que cada colega lute para que nessa frase única, esteja contemplado o que ele escreveu individualmente.

A seguir, é solicitado que em cada grupo seja escolhido um representante, e assim formamos um grupo de apenas quatro estudantes (líderes dos quatro grupos), que por sua vez deverão resumir em uma só frase o resultado das quatro frases dos grupos anteriores. Essa frase final deve ser escrita no quadro branco. Essa técnica também pode ser desenvolvida online, com uso de computador ou tablete na sala de aula. Enquanto os quatro alunos estão construindo a frase final, que se constitui a síntese das frases dos quatro grupos, o professor deverá dialogar com os dezesseis alunos restantes sobre as atividades que estão sendo vivenciadas.

Logo que a frase do último grupo é concluída, um componente desse grupo deverá escrevê-la no quadro branco ou digitá-la no computador para ser projetada em PowerPoint na sala de aula.

Assim procedendo, a SDI se constitui numa interessante motivação para integração do professor com os alunos e dos estudantes entre si. Uma vez concluída a atividade da síntese dos grupos, o professor dará inicio à aula, trabalhando o conteúdo da temática em estudo por meio da utilização de textos. É importante manter um constante diálogo com os alunos, fazendo confronto entre o que dizem os autores dos textos que estão sendo trabalhados e as frases que foram construídas de forma individual, em pequenos grupos e no grupo com os representantes (líderes) dos pequenos grupos. A nova série de atividades vai depender da criatividade do professor, para concluir sua aula por meio de uma atividade avaliativa, como por exemplo, a construção de painéis, pequenos textos, relatórios, mapas conceituais e/ou artigos científicos, se os estudantes são de Licenciaturas ou Pós. A SDI também se aplica na Educação Infantil e Ensino Fundamental por meio da realização de atividades com desenhos e imagens.

Figura 2 - Demonstrativo de uma SDI
Figura 2 – Demonstrativo de uma SDI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando como referencial as experiências exitosas com aplicação da Metodologia Interativa e nos aportes teóricos que alicerçam a presente proposta, é possível afirmar que esta metodologia, que se caracteriza como uma proposta de investigação qualitativa, coloca os atores sociais como reais construtores  e reconstrutores da realidade pesquisada. A aplicação do CHD fundamentada na dialogicidade e no pensamento complexo sem dicotomizar a realidade, a interatividade entre pesquisador(a) e os atores sociais por meio de constantes diálogos, facilita a análise de dados. O diferencial está na pré-análise dos dados para fechamento do objeto de estudo por meio do cruzamento de dados, tendo a realidade já construída e reconstruída pelos sujeitos da pesquisa, minimizando a subjetividade do pesquisador(a).

Quando falamos em eliminar ao máximo a subjetividade, partimos do pressuposto de que em regra geral, o pesquisador, quer queira ou não, tem a tendência de fazer análises sobre o seu ponto de vista, e, às vezes, esquece que é a realidade que nos fala, e não o que nós achamos ou pensamos a respeito dela. Sendo assim, a Metodologia Interativa coloca os atores sociais como reais construtores e reconstrutores da realidade pesquisada. Estes sujeitos de pesquisa, por meio de suas falas, nos levam a compreender a realidade de forma mais objetiva possível, sem interferência do ponto de vista e/ou da subjetividade do pesquisador(a).

A Sequência Didática Interativa, partindo da sondagem dos conceitos prévios dos estudantes e na realização de uma sequência de atividades por meio da aplicação da técnica do Círculo Hermenêutico-Dialético (CHD), é viável, e permite obter como resultado final a produção de novos conhecimentos e saberes, em forma de textos e artigos científicos.

Finalmente, ainda é possível afirmar que tanto a Metodologia Interativa como a Sequência Didática Interativa facilitam a interatividade entre professores e alunos e dos estudantes entre si, desenvolvendo a criticidade e motivando a criatividade para produção de novos conhecimentos.

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